quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Ter filhos ou não? Escolha consciente!


Por Ana Elisa Oliveira

A farmacêutica Jacqueline Máximo, 47 anos, de Belo Horizonte (MG), sempre teve receio de ser mãe. “Sempre fui muito analista a respeito das coisas do mundo, afinal, ele não está fácil. Ao mesmo tempo em que sair da minha zona de conforto, para mim, era uma prova ter filhos”, conta. Ainda assim, Jacqueline decidiu superar o medo quando estava com 39 anos, porque o marido queria muito ter filhos. “Cheguei a chorar quando pegamos o resultado, mas o meu marido ficou tão feliz e recebi tanto carinho das pessoas que fui me tornando uma grávida mais satisfeita”, lembra Jacqueline.

Com o dia a dia das pessoas cada vez mais corrido e o mundo apresentando tantos desafios, a decisão de ter ou não filhos ainda é bastante discutida nos dias de hoje. Os recursos que a indústria e a tecnologia dão ao ser humano, na Terra, têm tornado a rotina cada vez mais eficiente. No entanto, esta praticidade das tarefas gera mais compromissos, ocupando quase todo o dia das pessoas. A tecnologia (aparelhos de celular, internet), o trabalho, as atividades físicas, as viagens, o lazer trazem, como consequência, a falta de tempo, o estresse e o cansaço. As lacunas de tempo que antes serviam ao relacionamento mais próximo com a família e amigos já quase não existem.

Desta forma, ter filhos deixou de ser uma obrigação. E sem falar que as mulheres estão cada vez mais assumindo funções no mercado de trabalho, o que torna o cenário ainda menos propício a uma possível expansão da família. Aliado a tudo isso, as diversas alternativas que hoje existem para o planejamento familiar e para evitar a concepção, além do receio de assumir ainda mais responsabilidades, o que faz com que as mulheres, principalmente, adiem – e até excluam – essa opção de suas vidas.

Pontua-se, aqui, ainda, que a Doutrina Espírita se opõe totalmente a qualquer tipo de aborto, ou seja, a qualquer forma de interrupção do óvulo já fecundado, em qualquer situação que tenha sido concebido – já que a união do espírito com o corpo se dá no momento da concepção. Desta forma, ainda que a oportunidade de tornar um espírito reencarnado por meio de uma gestação seja uma missão de grande oportunidade para a evolução, a responsabilidade também tem a mesma proporção. Segundo a estudiosa da doutrina e advogada Simone Rachid, trabalhadora da Fundação Espírita Carita, em Belo Horizonte, pais e filhos geralmente têm histórias entrelaçadas há várias encarnações, e elas podem, muitas vezes, ser alternativas para apaziguar relações conflituosas.

A escolha de trazer uma nova vida ao mundo, hoje, não é somente racional. A psicóloga Christiane Roussin explica que trata-se principalmente de um ato de humildade, amor e caridade. “Humildade, por reconhecer que somos falhos, que criamos uma sociedade adoecida nos seus valores morais e espirituais; amor, por querer compartilhar este mundo com o bebê que virá da forma que vier (com toda sua carga genética e energética); e caridade, por saber de todos esses aspectos e mesmo assim estar aberto aos desafios de ser pai e mãe”, afirma.

A decisão de ter filhos e do melhor momento para isso faz parte do planejamento reencarnatório e do livre-arbítrio de cada um. No livro Nossos Filhos são Espíritos, o autor Herminio Miranda relata a emocionante experiência da paternidade, o que também traz responsabilidades. “A geração de um corpo humano para que nele se instale um espírito é uma decisão grave, pejada de implicações e consequências. Representa um convite formal a alguém que já existe numa dimensão que nos escapa aos sentidos habituais e que estamos propondo receber, criar e educar, oferecendo-lhe nova oportunidade de vida”, afirma o autor.

Simone Rachid compartilha desta opinião. “A nossa consciência será sempre o sinalizador das nossas decisões e podermos sempre optar e escolher o nosso caminho, faz parte da nossa evolução”, pontua. No entanto, ela faz ressalvas quanto às consequências, que podem ser bastante positivas. “As dúvidas que muitas vezes permeiam a decisão da maternidade ou paternidade são superadas pela alegria de poder recomeçar, fazer novos caminhos, estabelecer novas relações e desenvolver cada vez mais a capacidade de amar e ter certeza de que essa trajetória transforma a nossa vida”, afirma Simone.



Missões Diversas em um Mundo Atribulado

Algo que impede e adia a decisão de muitos casais de gerar uma nova vida é a turbulenta rotina que o século XXI proporciona, com responsabilidades cada vez mais extensas e tempo livre cada vez mais curto, além da preocupação com a vida financeira. A advogada Flávia Penido, 28 anos, se vê mãe desde a infância, e até mesmo imagina seus filhos a esperando em casa quando chega do trabalho. 

Ainda assim, ela adia o momento porque espera se estabelecer profissionalmente, já que terá que abrir mão de muita coisa. “Considerando os meus objetivos profissionais, apesar de planejar e tentar organizar minha vida para que no momento do nascimento eu tenha tempo para dedicar aos meus filhos, acredito que não vou conseguir evitar que ela esteja bastante agitada e sei que vou precisar fazer algumas renúncias. Talvez sejam essas renúncias que mais me preocupam”, pondera Flávia.

A decisão de não ter filhos não é repreendida, já que cada um sabe, de acordo com a sua consciência, das suas reais responsabilidades e missões nesta vida. A jornalista Bruna Miranda, de 32 anos, não pretende ter filhos porque se engajou de tal maneira a certas causas – e talvez por isso tenha deixado um pouco de lado o instinto maternal. “Depois de várias mudanças profundas na minha maneira de enxergar a vida, na minha espiritualidade e até profissionalmente, sinto que minha ‘missão’ é muito relacionada ao que amo fazer, que é a busca por ações com propósitos e por mudanças positivas, e tão necessárias, em questões de direitos humanos, campanhas ambientais e causas animais”, diz. Ela acrescenta que pode mudar de ideia e que “a decisão não é a de não gerar uma nova vida, mas me dedicar e ajudar, como puder, as vidas que aqui já habitam e o nosso meio ambiente”.

A fisioterapeuta Thaís Cruz, de 31 anos, sempre quis ter filhos, no entanto, terminou um relacionamento de cinco anos recentemente. “Estava imaginando que seria mãe no próximo ano, mas acabei me divorciando. Estava preparando minha saúde física e mental para assumir essa responsabilidade”, conta. Agora, Thaís tem novos planos, como a realização do sonho de estudar Medicina. Ela não descarta a vontade de ter filhos, mas enxerga que também pode ter outros objetivos edificantes, assim como Bruna. “Se por acaso não os tiver, estarei pelo mundo afora praticando Medicina solidária. Dedicarei a minha vida aos mais necessitados, principalmente aos irmãos africanos e também aos brasileiros e na América Latina”, afirma Thaís.

O que dizem as obras de Kardec

Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec traz algumas interpretações sobre o tema e pergunta, na questão 693: “São contrários à lei da Natureza as leis e os costumes humanos que têm por fim ou por efeito criar obstáculos à reprodução?”. Como resposta dos espíritos, recebe a mensagem: “Tudo o que embaraça a Natureza em sua marcha é contrário à lei geral.” Em seguida, ainda na mesma pergunta, ao questionar o impedimento da reprodução de espécies que podem ser nocivas até mesmo ao homem, ganha a seguinte resposta: “Deus concedeu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder de que ele deve usar, sem abusar. Pode, pois, regular a reprodução, de acordo com as necessidades. Não deve opor-se-lhe sem necessidade.”

Pode-se concluir que já no século XIX a interpretação que os espíritos traziam a respeito da reprodução humana era flexível. Falava-se na necessidade da reprodução humana, mas ainda assim Kardec lembrava que tudo deve ser feito dentro dos limites do livre-arbítrio.

Fonte: http://serespirita.com.br/ter-filhos-ou-nao-escolha-consciente/

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